“Quem devia cuidar das riquezas de Angola demonstra todos os dias que não está preparado para essa missão e talvez nem queira cumprir esse papel. A economia saiu do controlo. Os dados não mentem. Em 2010, um saco de arroz custava 2.500 kwanzas. Hoje, em 2025, custa 26.500. Um aumento de 960%. A fuba de milho saltou de 1.800 para 17.500. O feijão, de 200 para 2.000 kwanzas. Tudo multiplicou (…) menos o salário do povo”, escreveu Adalberto Costa Júnior.
A economia angolana tem enfrentado sucessivos períodos de instabilidade desde a crise financeira mundial de 2008, embora tenha demonstrado alguma resiliência e oscilações pontuais nos indicadores macroeconómicos. A crise agravou-se a partir de finais de 2010, altura em que Angola foi incluída na lista negra do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI). Ainda assim, em 2015 registou-se uma relativa estabilização dos preços da cesta básica, pouco antes de o país transitar da lista negra para a lista cinzenta do referido organismo intergovernamental, que define normas internacionais para o combate ao branqueamento de capitais, ao financiamento do terrorismo e à proliferação de armas de destruição em massa.
Mas será verdade que, em 2010, um saco de arroz de 25 kg custava 2.500 kwanzas, como afirmou o presidente da UNITA?
De acordo com os dados disponíveis, a afirmação não corresponde inteiramente à realidade. O Índice de Preços no Consumidor (IPC), publicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para o triénio 2010-2012, revela que, ao longo de 2010, os preços do arroz registaram oscilações. Em Novembro desse ano, por exemplo, o preço médio de 1 kg de arroz comum já era de 278 kwanzas, o que equivale a 6.950 kwanzas por 25 kg — quase o triplo do valor apontado por Adalberto Costa Júnior. Importa ainda referir que os preços variavam consideravelmente entre províncias.
Já em 2018, o primeiro ano completo de governação de João Lourenço — investido a 26 de Setembro de 2017 —, registaram-se aumentos significativos no preço da cesta básica. Em Abril daquele ano, o preço de 1 kg de arroz era de 667 kwanzas, o que elevava o valor do saco de 25 kg para 16.675 kwanzas. Em Maio, o preço subiu ligeiramente para 682 kwanzas por kg.
Apesar disso, durante os primeiros cinco anos do mandato de João Lourenço, também se verificaram momentos de recuo nos preços, embora com variações regionais. Por exemplo, em Setembro e Outubro de 2019, na província do Huambo, o saco de 25 kg de arroz foi vendido por 8.026 e 9.596 kwanzas, respectivamente. Em Luanda, no mesmo período, os preços variaram entre 7.334 e 8.963 kwanzas.
Os preços voltaram a subir nos anos seguintes, mas registaram nova descida em 2022 — ano de eleições gerais —, coincidindo com a implementação da Reserva Estratégica Alimentar (REA). Nesse contexto, o saco de arroz chegou a custar 9.103 kwanzas, o que levou a oposição a acusar o Governo de praticar medidas eleitoralistas, antevendo um novo aumento após o escrutínio, caso o MPLA vencesse.
Segundo dados oficiais, até Dezembro de 2023, o preço de 25 kg de arroz rondava os 24 mil kwanzas.
Mais recentemente, na manhã desta quarta-feira, 7 de Maio de 2025, uma equipa de reportagem do Polígrafo África realizou uma ronda por mercados formais e informais da cidade de Luanda. Em nenhuma das localidades visitadas foi encontrado um saco de arroz de 25 kg a ser comercializado por 26.500 kwanzas, independentemente da marca, contrariando a afirmação do líder da UNITA.
Confrontado com os dados recolhidos, o secretário para a Comunicação e Marketing da UNITA, Evaldo Sendala Evangelista, explicou que o preço mencionado pelo presidente do partido foi registado durante uma digressão realizada em Março deste ano às províncias do Leste e a Cabinda. Segundo Evangelista, residentes de Cabinda confirmaram, na terça-feira, 6 de Maio, que o preço do saco de arroz de 25 kg ronda actualmente os 25.500 kwanzas.
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Avaliação do Polígrafo África: