“Desde o início do corrente ano que Angola enfrenta um novo surto de cólera, com 24.536 casos e 718 óbitos até ao dia 2 de Junho, apresentando uma taxa de letalidade de 2,9%. Contudo, graças às medidas imediatas tomadas pelo Governo e parceiros, começamos já a observar melhorias claras em várias províncias. Os nossos esforços começam a ter resultados concretos e estão efectivamente a salvar vidas”, declarou João Lourenço na passada quinta-feira, 5 de Junho, durante a reunião de alto nível organizada pela África-CDC (Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças), realizada em formato virtual.
A iniciativa partiu do Presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema, actual campeão da União Africana para a Cólera. O encontro teve como objectivo fazer o ponto de situação da epidemia que afecta vários países africanos.
Ainda na sua intervenção, João Lourenço defendeu a necessidade de garantir uma resposta “robusta e sustentável” a esta e a futuras crises sanitárias, sublinhando que será “fundamental” para os países africanos investirem na produção local de medicamentos e vacinas. “A dependência exclusiva de importações externas limita a nossa capacidade de resposta e compromete a soberania sanitária de África”, alertou.
Mas estará Angola realmente a registar melhorias no combate ao surto de cólera?
Pelo menos até ao dia 5 de Junho, data em que João Lourenço fez estas declarações, os dados disponíveis apontam nesse sentido. De acordo com o Boletim Informativo da Cólera de 1 de Junho, foram notificados 204 novos casos, dos quais 83 na província do Namibe, actualmente considerada o epicentro do surto.
No dia seguinte, 2 de Junho, foram registados 197 novos casos, menos sete do que nas 24 horas anteriores. Foi precisamente com base nestes dados — acumulando, até então, 24.536 casos e 718 mortes, que o Presidente referiu a existência de sinais de melhoria.
A tendência de descida manteve-se no dia 3 de Junho, com o registo de 133 novos casos, uma redução de 64 em relação ao dia anterior. No entanto, a 4 de Junho, observou-se um ligeiro aumento, com 141 novos casos notificados.
Importa sublinhar que as declarações do Chefe de Estado tiveram por base os dados consolidados até 2 de Junho. Assim, do ponto de vista estatístico, é possível sustentar a sua afirmação de que se observavam melhorias no combate à epidemia de cólera em Angola — ainda que a evolução posterior da situação deva continuar a ser acompanhada com atenção.
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Avaliação do Polígrafo África: