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Angola teve 42 partidos políticos em 1976/1977?

Política
O que está em causa?
A menos de dois anos das eleições gerais previstas para 2027, vários actores políticos em Angola começam a afinar as suas máquinas partidárias. Tal como em pleitos anteriores, emergem novos projectos políticos que procuram passar pelo crivo do Tribunal Constitucional (TC). Nas redes sociais, porém, circula a alegação de que Angola chegou a ter 42 partidos políticos em 1976/1977. Mas será verdade?

Recentemente, o Tribunal Constitucional validou duas novas formações políticas, nomeadamente o Partido Cidadania, liderado por Júlio Bessa, antigo ministro das Finanças e ex-militante do MPLA; e o Partido Liberal, encabeçado pelo activista Luís de Castro. A legalização destes partidos reacendeu o interesse de outras figuras em criar formações políticas com vista a participarem nas eleições de 2027.

Entre os interessados está o activista e jurista Hélder Chihuto, que deu início ao processo de legalização do seu projecto, o Partido Solução (PS). Em reacção ao anúncio, um internauta manifestou indignação face à proliferação de novos partidos, recordando que “em 1976/1977, Angola tinha mais de 40 partidos”, e sublinhou que, apesar disso, “a verdadeira disputa será sempre entre o MPLA e a UNITA”.

Outro nome que almeja ver o seu partido reconhecido é Sapalo António, dissidente e co-fundador do Partido de Renovação Social (PRS). O antigo líder da bancada parlamentar do PRS anunciou, no início deste ano, a criação do Partido Pela Verdade e Estabilidade para o Desenvolvimento (PVED).

Segundo uma publicação  datada de 5 de Junho, existem actualmente 15 pedidos de legalização de novos projectos políticos sob análise no TC.

Mas houve, de facto, 42 partidos políticos em 1976/1977?

As informações oficiais desmentem categoricamente essa narrativa. Entre 1976 e 1977, Angola vivia sob um regime de partido único, liderado pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que assumiu o poder após a independência em 1975. A transição para o multipartidarismo só se concretizou em 1991, com a assinatura dos Acordos de Paz de Bicesse, entre o Governo e a UNITA.

Foi apenas em 1992 que o país realizou as suas primeiras eleições multipartidárias, para a Presidência da República e para a Assembleia Nacional. Nessa altura, concorreram 17 partidos políticos e uma coligação composta por cinco partidos. Doze candidatos apresentaram-se à corrida presidencial.

Em 2008, ano das segundas eleições legislativas, o número de concorrentes reduziu-se para 14 formações políticas. Já em 2012, nas terceiras eleições, participaram nove partidos e coligações. O pleito de 2017 contou com cinco partidos e uma coligação, enquanto nas mais recentes eleições gerais, em 2022, concorreram oito formações políticas.

Actualmente, o Tribunal Constitucional reconhece oficialmente 14 partidos políticos legalizados em Angola:

MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola

UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola

FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola

PRS – Partido de Renovação Social

PDP-ANA – Partido Democrático para o Progresso – Aliança Nacional de Angola

PADDA-AP – Aliança Patriótica

PALMA – Nova Angola – Partido da Aliança Liberal para Maioria de Angola

PNSA – Partido Nacional de Salvação de Angola

PPA – Partido Popular de Angola

BD – Bloco Democrático

PHA – Partido Humanista de Angola

Cidadania

PRA-JA Servir Angola

PL – Partido Liberal

Embora a Constituição da República de Angola consagre o direito à criação de partidos políticos, a sua legalização depende da validação do Tribunal Constitucional, após um processo que exige o cumprimento de requisitos legais e organizacionais rigorosos.

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Avaliação do Polígrafo África: 

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