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André Ventura criticado por ter “ido longe demais” na reacção à morte de um jovem cabo-verdiano em Portugal

Política
O que está em causa?
Grupo de figuras públicas subscreveu uma queixa-crime contra o líder do Chega e outro dirigente do partido, por alegada incitação ao ódio, na sequência da morte de um cabo-verdiano alvejado por um agente da polícia. O Primeiro-Ministro de Cabo Verde repudiou as declarações do político português.
© Agência Lusa / José Sena Goulão

Em Portugal e em diferentes geografias africanas de expressão portuguesa multiplicam-se as críticas dirigidas a André Ventura, presidente do partido Chega, que nas últimas eleições legislativas conseguiu ascender à posição de terceira maior força política de Portugal.

As reacções contra o político da direita radical e populista surgem na sequência de seu comentário à morte a tiro de Odair Moniz, de origem cabo-verdiana e nacionalidade portuguesa, alvejado por um operacional da Polícia de Segurança Pública (PSP) em circunstâncias que ainda não estão esclarecidas.

A morte gerou uma onda de protestos violentos nas ruas de vários bairros na Amadora, Loures e Lisboa. Em reacção, o líder do Chega disse que o Governo “devia agradecer” ao agente da polícia pela sua actuação, criticando o facto de ter sido constituído arguido.

“Não devíamos constituir este homem arguido, devíamos agradecer a este polícia pelo trabalho que fez de parar um criminoso que estava disponível com armas brancas para atacar polícias (…). O Governo faz uma grande gala e um grande anúncio público de um inquérito e de uma investigação sobre esta morte, quando não o fez sobre milhares de agressões a polícias que ocorrem em Portugal todos os anos e que já ocorreram este ano”, afirmou Ventura num vídeo difundido nas redes sociais.

Por sua vez, o líder da bancada parlamentar do Chega, Pedro Pinto, no decurso de um debate televisivo, declarou que se os polícias “disparassem mais a matar, o país estava mais na ordem”.

Entretanto, um grupo de figuras públicas – incluindo a ex-ministra da Justiça, Francisca Van Dunem – avançou com uma queixa-crime contra os dois dirigentes do Chega. Ao passo que o  Ministério Público português abriu um processo contra os mesmos por incitação ao ódio.

No país de origem de Odair Moniz, Cabo Verde, também há reacções ao sucedido. O Primeiro-Ministro Ulisses Correia e Silva repudiou as declarações dos declarações de Ventura e Pinto e expressou a sua confiança na Justiça portuguesa.

“Repudiamos veementemente os discursos incendiários proferidos por certos actores políticos. Destaco em particular as declarações do presidente do Chega que foram absolutamente irresponsáveis (…). Num momento tão delicado e ainda em fase de investigação, não se pode atirar culpas especialmente contra comunidades, imigrantes ou a imigração cabo-verdiana. É essencial aguardar pelo apuramento completo dos factos e confiar na investigação criminal”, sublinhou o Chefe do Governo cabo-verdiano.

Já a embaixatriz de Cabo Verde em Lisboa, Manuela Brito, apelou a que o seu país declare Ventura como “persona non grata“, face às suas posições.

O deputado cabo-verdiano para Europa e Resto do Mundo, Jaime Monteiro, também considerou irresponsáveis as declarações de Ventura e manifestou solidariedade para com a família da vítima.

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