Numa publicação no Facebook, Orlando Lima, presidente do Observatório da Cidadania Activa, interroga se o Estado de Cabo Verde vai declarar, ou não, André Ventura como persona non grata. “Quem faz o apelo à violência, ao racismo e ainda condecora quem mata, independentemente das circunstâncias, e tenta violar os princípios sagrados da democracia e da cidadania merece uma firme resposta de repúdio do povo e das autoridades”.
“Chega de ódio. O Mundo não tem mais espaço para tanta violência, sobretudo quando ela vem dos partidos políticos que, em princípio, deveriam ser os primeiros a promover a paz. O Mundo, hoje, é mais multicultural e esta mistura de culturas e de raças deveria tornar este Mundo mais tolerante e mais dialogante”, enfatizou Orlando Lima.
Por outro lado, Manuela Brito, embaixatriz cabo-verdiana em Lisboa e candidata pelo Movimento pela Democracia (MpD) à Assembleia Municipal da Praia, nas eleições de 1 de Dezembro, pediu, também através da sua página do Facebook, que o Governo de Cabo Verde declare o líder do Chega persona non grata. Isto porque, sublinhou, “para nós, ele já é!”
“Por outro lado, também me preocupam as declarações de alguns dirigentes políticos portugueses que, se calhar, ainda não perceberam a extensão do problema. Em vez da ênfase do discurso ser no que aconteceu, a morte de um cidadão natural de Cabo Verde com nacionalidade portuguesa, desarmado e dentro da viatura, fazem todo o seu discurso à volta da reacção que houve, ainda com ameaças de endurecimento das medidas. Francamente! Seria muito bom não fazerem como a avestruz”, afirma a embaixatriz.
A confirmar-se oficialmente o pedido de Manuela Brito, que conta com o apoio de vários cidadãos, esta seria a primeira vez que o Estado cabo-verdiano declararia um cidadão estrangeiro persona non grata. Note-se que, além de presidente do Chega, André Ventura é deputado nacional, associado à extrema direita.
O Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, também através do Facebook, apelou à calma e serenidade, mostrando-se confiante nas autoridades portuguesas, lembrando, ao mesmo tempo, que Ministério da Administração Interna de Portugal já determinou a abertura de um inquérito “com carácter de urgência” para apurar os factos relacionados com a morte de Odair Moniz.
José Maria Neves apontou ainda “a importância de acreditar na justiça, que deve actuar com rigor e imparcialidade para esclarecer todos os factos e imputar responsabilidades, se for o caso”.
O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, reagiu de forma cautelosa à morte de Odair Moniz, dizendo que confia na justiça portuguesa. Contudo, não deixou de repudiar “veementemente” os discursos “incendiários” proferidos por certos actores políticos.
O Chefe do Governo cabo-verdiano defendeu ainda que “num momento tão delicado e ainda em fase de investigação, não se pode atirar culpas especialmente contra comunidades, imigrantes ou a imigração cabo-verdiana”.
“É essencial aguardar pelo apuramento completo dos factos e confiar na investigação criminal, que será a responsável por trazer a verdade à tona”, advogou Ulisses Correia e Silva, afirmando também que está a acompanhar de perto o caso e que “desde o primeiro momento, Cabo Verde se posicionou através do nosso embaixador em Portugal, que teve uma intervenção clara e firme”.
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Avaliação do Polígrafo África: