Com a estrondosa derrota do MpD nas últimas eleições autárquicas, vários militantes desse partido têm utilizado as redes sociais para pedir a realização de uma Convenção extraordinária no sentido de dar um novo rumo ao partido. Depois de ter conquistado a maior vitória de sempre do partido nas eleições autárquicas de 2016, Ulisses Correia e Silva acabou por levar o partido para a pior derrota de sempre.
O deputado Orlando Dias, do MpD, defendeu a convocação de eleições internas para que o novo líder que venha a ser eleito possa ter tempo e condições políticas para introduzir reformas profundas no partido, apresentar novos compromissos de governação do país e enfrentar “com êxito” a disputa eleitoral das legislativas de 2026.
Orlando Dias instou o líder do MpD, Ulisses Correia e Silva, e os vice-presidentes do partido a demitirem-se, face ao desaire nas eleições autárquicas de domingo. Este deputado considera que a superestrutura do MpD é a maior culpada pelo resultado negativo do partido nesse pleito eleitoral, com a perda de metade das Câmaras Municipais que detinha, perdendo pela primeira vez o estatuto de maior partido autárquico.
Este parlamentar – que se posiciona como alternativa a Ulisses Correia e Silva na liderança do MpD – realça que “pela primeira vez na história do Poder Local, o MpD perde umas eleições autárquicas, para mais, de uma forma absolutamente esmagadora, passando de 14 para sete Câmaras Municipais. Por arrasto, perde a Presidência da Associação Nacional dos Municípios Cabo-verdianos. Aparentemente, a liderança do partido desvaloriza estes factos, argumentando que se trata de consequências do jogo democrático”.
Numa publicação no Facebook, Francisco Freire considerou que a derrota expressiva MpD nas eleições autárquicas “representa um momento crucial de introspecção que é possível redirecionamento para o partido e a sua liderança”.
“Perder 15 de 22 Câmaras, incluindo a da capital da República e de Santa Catarina de Santiago, não é apenas uma derrota eleitoral, mas um sinal potente de descontentamento popular e um apelo para uma revisão substancial das estratégias políticas e de comunicação do partido”.
Para este jurista próximo do MpD, “a liderança de qualquer partido político é um espelho da sua saúde e perspetivas. Para o doutor Ulisses Correia e Silva, essa derrota pode ser vista como um referendo directo ao seu estilo de liderança e às políticas implementadas durante a sua gestão”.
O ex-ministro e antigo líder do Grupo Parlamentar do MpD, Paulo Veiga, reagiu à derrota do seu partido também numa publicação do Facebook, afirmando que “é exigível que os partidos e os seus dirigentes saibam interpretar estes números com seriedade e com a motivação de uma mudança de abordagem que possa oferecer soluções aos problemas e ansiedades reais das populações e que possam, de forma convincente e próxima chegar a todos”.
Como um dos integrantes da lista de Abraão Vicente, como candidato a vereador à Câmara da Praia, Alberto Melo (Beta) assumiu, numa publicação no Facebook, as suas responsabilidades na “pesada” derrota eleitoral da candidatura do MpD.
Este militante do MpD afirmou, no entanto, que lhe “parece ser altura de, enquanto colectivo partidário, reflectirmos sobre o desaire eleitoral e o futuro do nosso partido. E isso passa, também, por uma reflexão do líder do MpD, da Comissão Política e da Comissão Nacional, para retirarem as ilações devidas e perceberem que, queiramos ou não, está iniciado um novo ciclo político. E o MpD, inegavelmente, precisa de um novo rumo!”.
Na sequência dos resultados das eleições autárquicas, a Comissão Política Nacional do MpD na última sexta-feira, para analisar as causas da fraca performance do partido nesse pleito eleitoral e tomar medidas com vista a inverter a situação.
Entre as decisões anunciadas está a convocação de uma reunião da Direção Nacional do MpD para o dia 11 de Janeiro de 2025. O encontro terá como objectivo principal, segundo o vice-presidente do partido, Fernando Elísio Freire, definir orientações estratégicas para reposicionar o partido e reforçar sua acção política.
Sobre as críticas à liderança do Primeiro-Ministro e presidente do partido, Ulisses Correia e Silva, Fernando Elísio Freire destacou que nas democracias há vitórias e derrotas, ressaltando os êxitos obtidos em pleitos anteriores. “Ulisses Correia e Silva liderou várias vitórias do MpD. Este é um momento de reflexão e reorganização, mas estamos confiantes na nossa capacidade de alinhar estratégias para voltar a ganhar”.