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Cabo Verde. Repúdio do MpD a jornalista levanta preocupações sobre liberdade de imprensa no país

Política
O que está em causa?
Em nota oficial assinada pelo secretário-geral Agostinho António Lopes, o Movimento para a Democracia (MpD), partido governante de Cabo Verde, criticou o jornalista Carlos Santos por suposta falta de rigor na sua actuação, e de estar a coordenar de forma tendenciosa e negativa para o governo os programas 'Bom dia Cabo Verde' e 'Café Central', transmitidos pela Rádio de Cabo Verde, emissora pública.

O Movimento para a Democracia (MpD), partido no poder em Cabo Verde e liderado pelo actual Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, divulgou uma nota onde faz duras críticas ao jornalista Carlos Santos, da Rádio de Cabo Verde, o principal órgão de comunicação social do país.

Entre outras considerações, o MpD acusa o jornalista de falta de rigor, apontando que este opta frequentemente por convidar para o programa “Café Central” analistas sociais e políticos cujas abordagens visam “anular, pôr em causa ou lançar dúvidas” sobre as declarações de convidados da edição anterior, sendo que, na maioria das vezes, tais convidados pertencem ao MpD ou estão próximos do partido.

Na perspectiva do MpD, a diversidade de convidados não tem nada a ver com o respeito pelo princípio do “contraditório ou do pluralismo democrático“, mas resulta, sublinha o partido, da “estratégia global de anular toda e qualquer intervenção na RCV favorável ao sistema MpD”, conforme se lê no comunicado.

Embora o partido governante sustente a sua acusação com a alegação de que o jornalista Carlos Santos é recorrente nessa alegada prática de anular “tudo o que é positivo” em relação ao MpD, aponta como exemplo o episódio ocorrido após a entrevista que Ulisses Correia e Silva concedeu ao referido programa, no passado dia 15 deste mês.

O MpD menciona que, no dia seguinte à entrevista, o jornalista recebeu no mesmo programa um cidadão de nome Alte Pinho, a quem, segundo o MpD, a rádio não se dignou a fazer uma apresentação do seu perfil, uma prática jornalística que permitiria aos ouvintes conhecer um pouco mais sobre a pessoa entrevistada.

Para o MpD, o convidado, que dedicou tempo a analisar a entrevista anterior concedida por Ulisses Correia e Silva, chefe do Governo cabo-verdiano e presidente do MpD, teceu críticas ao Executivo e expressou simpatia pelo maior partido da oposição.

Entretanto, o posicionamento do MpD, considerado um atentado à liberdade de expressão, suscitou várias reacções nas redes sociais, com destaque para uma publicação do diplomata Manuel Rosa, que se dissepasmado” ao ler o “extenso libelo acusatório” contra o jornalista, a quem considera um dos profissionais de excelência do país.

Manuel Rosa considerou ainda que encarou a advertência como “desnecessária, inapropriada e catalisadora de uma agudização da situação de autocensura que vivenciamos no país”.

Por outro lado, a Associação dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC) afirmou ter recebido “com espanto” o comunicado do MpD, manifestando preocupação com o teor da mensagem. A organização expressou total apoio a Carlos Santos e reafirmou o seu compromisso com a “defesa intransigente” da liberdade de imprensa e da autonomia editorial.

O director da RCV, Marcos Fonseca, numa comunicação interna, também se pronunciou em defesa do jornalista Carlos Santos, recordando que, de acordo com a Constituição da República, é garantida a liberdade de imprensa, bem como a independência dos meios de comunicação social em relação ao poder político, estando estes protegidos contra qualquer forma de censura.

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