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Deputados e cidadãos cabo-verdianos criticam rádio pública por suspender transmissão integral das sessões parlamentares

Política
O que está em causa?
A decisão da direcção da Rádio de Cabo Verde (RCV), órgão estatal de comunicação social, de deixar de transmitir na íntegra as sessões parlamentares, optando por emitir apenas os momentos considerados de interesse público, está a gerar forte polémica no arquipélago.
© Shutterstock

Parlamentares e cidadãos de vários sectores da sociedade cabo-verdiana têm reagido com críticas à decisão, tomada de forma unilateral e sem aviso prévio. A medida foi tornada pública pelo presidente da Assembleia Nacional, Austelino Correia, na manhã desta quarta-feira, 7 de Maio, momentos antes da aprovação da ordem do dia da primeira sessão plenária do mês.

Segundo o líder parlamentar, a informação foi-lhe transmitida em audiência pela direcção da rádio, ocasião em que manifestou a sua indignação.

“Manifestei o meu desacordo e disse que deveríamos ter sido contactados previamente, pelo menos para sermos ouvidos, mas entenderam que não (…). A direcção da rádio afirmou que irá avaliar as nossas intervenções e, de acordo com o critério de importância que considerarem, decidirão o que transmitir”, declarou Austelino Correia.

A decisão motivou críticas contundentes por parte da maioria dos deputados, com alguns a sugerirem que a mudança poderá ter sido motivada por pressões políticas, nomeadamente de parlamentares afectos ao partido no poder.

Presente na sessão plenária, o secretário de Estado da Comunicação, Lourenço Lopes, assegurou que o Governo não tinha conhecimento prévio da decisão. Sublinhou, no entanto, que a RCV dispõe de autonomia administrativa e editorial, conforme previsto no seu estatuto. Ainda assim, destacou que cabe ao Estado assegurar a legalidade e prometeu acção.

“O Governo irá envidar esforços para mobilizar a atenção das entidades competentes, averiguar o que está a acontecer e adoptar as medidas que se revelem adequadas.”

Nas redes sociais, a controvérsia também domina o debate. Um utilizador do Facebook considerou que a decisão da RCV atenta contra o direito à informação e compromete os princípios do Estado de direito democrático:

“Num gesto que envergonha a comunicação pública e põe em causa os fundamentos do Estado democrático de direito, a direcção da RCV decidiu – por vontade própria ou sob pressão obscura – suspender a transmissão dos trabalhos parlamentares. A RCV, enquanto órgão público, não pertence à sua direcção, nem aos seus editores, nem a qualquer grupo político-partidário. É financiada pelo erário e deve obediência ao interesse público. O seu verdadeiro patrão é o povo, não a conveniência do momento.”

Por outro lado, também se ouviram vozes de solidariedade para com a direcção da rádio, com alguns cidadãos a recordarem que esta não é a primeira vez que tal decisão é tomada, e a lamentarem aquilo que consideram ser um aproveitamento político da situação.

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