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É verdade que há mais dinheiro a sair de Angola para Portugal do que o inverso?

Política
O que está em causa?
O antigo deputado e advogado David Mendes afirmou, em debate na Rádio Correio da Kianda, que grupos como o partido Chega, em Portugal, desconhecem a realidade das relações entre Luanda e Lisboa. Nesse sentido apresentou uma série de números e exemplos.

“Os grupos como o Chega têm de começar a perceber que parte de Portugal depende de Angola. Às vezes pensamos que Angola é que depende de Portugal, mas não! Portugal é que depende de Angola. Quanto é que sai de Portugal para Angola? Quase uma ninharia. E quanto é que sai de Angola para Portugal? Milhões”, afirmou David Mendes, advogado e político angolano, conhecido pela sua defesa de jovens manifestantes no período de José Eduardo dos Santos e, actualmente, crítico da liderança de Adalberto Costa Júnior na UNITA.

Estas declarações surgem como reacção às posições do partido Chega e do seu líder, André Ventura, que se têm manifestado publicamente contra o fluxo de imigrantes para o território português.

Em alguns sectores da sociedade, tanto em Angola como em Portugal, André Ventura e o Chega são frequentemente classificados como racistas e xenófobos.

Mas será verdade que há mais dinheiro a sair de Angola para Portugal do que no sentido inverso?

De acordo com dados estatísticos do Banco de Portugal, citados pela Agência Lusa, nos primeiros nove meses de 2023, as remessas dos portugueses a trabalhar em Angola aumentaram 1,61%, totalizando 219,6 milhões de euros — ligeiramente acima dos 216,1 milhões registados no mesmo período de 2022.

Em sentido inverso, as remessas dos angolanos em Portugal para Angola, entre Janeiro e Outubro de 2023, foram de apenas 20,34 milhões de euros. Em igual período de 2024, registou-se um ligeiro acréscimo, para 20,4 milhões de euros (mais 56 mil euros). Já os portugueses em Angola enviaram, no mesmo intervalo de 2024, 218,58 milhões de euros para Portugal.

A relevância económica de Angola para Portugal, aliás, não é uma discussão recente. Em Setembro de 2016, Paulo Portas, antigo Vice-Primeiro-Ministro português, já havia sublinhado essa realidade, numa altura em que diversos sectores da sociedade portuguesa exigiam uma posição mais crítica do Governo de Lisboa face às autoridades angolanas, devido a questões de direitos humanos e governação.

Na ocasião, Paulo Portas defendeu que não competia a Portugal “explicar aos angolanos como é que eles devem ser angolanos” e alertou que não era sensato “criar um irritante” nas relações bilaterais.

Em Angola há mais de 100 mil portugueses, duas mil empresas nacionais e cerca de 10 mil empresas portuguesas que exportam para aquele mercado”, recordou Paulo Portas, reforçando que a missão do Estado português é, antes de mais, defender os interesses de Portugal.

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Avaliação do Polígrafo África:

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