Segundo diversos órgãos de comunicação social que noticiaram as declarações do ministro, ao contrário da proposta apresentada há uma década, desta vez a candidatura da Guiné-Bissau incide sobre o “ecossistema aquático” de várias ilhas do arquipélago, nomeadamente João Vieira, Poilão, Orango e Urok.
Nas redes sociais, o anúncio foi amplamente celebrado, com várias publicações a destacar a importância da conservação daquelas zonas.
Num comentário divulgado no Facebook pode ler-se: “A classificação do arquipélago dos Bijagós como Património Mundial Natural da UNESCO é uma grande vitória para a Guiné-Bissau e para todos os que lutam pela preservação da nossa biodiversidade. Que esta distinção traga mais protecção, investimento sustentável e respeito pelas comunidades locais que, há séculos, vivem em harmonia com a natureza. Parabéns a todos os que tornaram este sonho possível.”
Mas será mesmo verdade que os Bijagós já foram oficialmente reconhecidos como Património Mundial da UNESCO?
De acordo com informação oficial disponível, a resposta é não. A decisão final sobre a inscrição do arquipélago na lista de património mundial — ou a eventual rejeição da candidatura — deverá ser tomada durante a 47.ª sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO, que decorrerá entre os dias 6 e 16 de Julho de 2025, em Paris, França.
Recorde-se que, em 2023, a directora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, expressou apoio à candidatura, após uma reunião com o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló. Na ocasião, a responsável garantiu que a organização apoiaria o projecto através da mobilização de fundos específicos, da formação de uma nova geração de especialistas locais, do envolvimento de peritos internacionais e da assistência técnica às autoridades nacionais para a elaboração de um plano de gestão do arquipélago — garantindo assim a sua protecção de acordo com os critérios da Convenção do Património Mundial.
A candidatura guineense recebeu, no primeiro trimestre de 2025, um parecer técnico favorável da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), entidade consultiva da UNESCO para as áreas naturais, que recomendou oficialmente a inscrição do arquipélago na lista de Património Mundial Natural. Esta recomendação foi formalizada numa publicação de 27 de Maio, divulgada pelo Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) da Guiné-Bissau.
Contactada pelo Polígrafo África, a directora-geral do IBAP, Aissa Regalla de Barros, confirma que o reconhecimento ainda não é oficial, esclarecendo que a decisão será tomada durante a já referida 47.ª sessão do Comité do Património Mundial.
A responsável destaca ainda o parecer positivo da UICN e o reconhecimento do esforço conjunto do Estado, das instituições nacionais e internacionais e das comunidades locais — especialmente o povo Bijagó — na protecção e gestão sustentável do território.
Em resumo, às declarações do ministro Viriato Cassamá, embora baseadas numa expectativa legítima, ainda não encontram espelho na realidade. A inscrição do arquipélago dos Bijagós como Património Mundial Natural não foi formalmente aprovada pela UNESCO, apesar de já ter recebido um parecer técnico positivo da UICN — o que constitui um passo fundamental no processo. Tudo indica que a decisão final será favorável, mas até à votação oficial qualquer anúncio é prematuro.
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Avaliação do Polígrafo África: