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É verdade que o arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau, foi elevado a Património Mundial?

Sociedade
O que está em causa?
O ministro do Ambiente, Biodiversidade e Acção Climática da Guiné-Bissau, Viriato Cassamá, anunciou na passada quinta-feira, 29 de Maio, que o arquipélago dos Bijagós foi proclamado Património Mundial Natural pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), após uma tentativa falhada há cerca de dez anos.

Segundo diversos órgãos de comunicação social que noticiaram as declarações do ministro, ao contrário da proposta apresentada há uma década, desta vez a candidatura da Guiné-Bissau incide sobre o “ecossistema aquático” de várias ilhas do arquipélago, nomeadamente João Vieira, Poilão, Orango e Urok.

Nas redes sociais, o anúncio foi amplamente celebrado, com várias publicações a destacar a importância da conservação daquelas zonas.

Num comentário divulgado no Facebook pode ler-se: “A classificação do arquipélago dos Bijagós como Património Mundial Natural da UNESCO é uma grande vitória para a Guiné-Bissau e para todos os que lutam pela preservação da nossa biodiversidade. Que esta distinção traga mais protecção, investimento sustentável e respeito pelas comunidades locais que, há séculos, vivem em harmonia com a natureza. Parabéns a todos os que tornaram este sonho possível.”

Mas será mesmo verdade que os Bijagós já foram oficialmente reconhecidos como Património Mundial da UNESCO?

De acordo com informação oficial disponível, a resposta é não. A decisão final sobre a inscrição do arquipélago na lista de património mundial — ou a eventual rejeição da candidatura — deverá ser tomada durante a 47.ª sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO, que decorrerá entre os dias 6 e 16 de Julho de 2025, em Paris, França.

Recorde-se que, em 2023, a directora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, expressou apoio à candidatura, após uma reunião com o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló. Na ocasião, a responsável garantiu que a organização apoiaria o projecto através da mobilização de fundos específicos, da formação de uma nova geração de especialistas locais, do envolvimento de peritos internacionais e da assistência técnica às autoridades nacionais para a elaboração de um plano de gestão do arquipélago — garantindo assim a sua protecção de acordo com os critérios da Convenção do Património Mundial.

A candidatura guineense recebeu, no primeiro trimestre de 2025, um parecer técnico favorável da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), entidade consultiva da UNESCO para as áreas naturais, que recomendou oficialmente a inscrição do arquipélago na lista de Património Mundial Natural. Esta recomendação foi formalizada numa publicação de 27 de Maio, divulgada pelo Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) da Guiné-Bissau.

Contactada pelo Polígrafo África, a directora-geral do IBAP, Aissa Regalla de Barros, confirma que o reconhecimento ainda não é oficial, esclarecendo que a decisão será tomada durante a já referida 47.ª sessão do Comité do Património Mundial.

A responsável destaca ainda o parecer positivo da UICN e o reconhecimento do esforço conjunto do Estado, das instituições nacionais e internacionais e das comunidades locais — especialmente o povo Bijagó — na protecção e gestão sustentável do território.

Em resumo, às  declarações do ministro Viriato Cassamá, embora baseadas numa expectativa legítima, ainda não encontram espelho na realidade. A inscrição do arquipélago dos Bijagós como Património Mundial Natural não foi formalmente aprovada pela UNESCO, apesar de já ter recebido um parecer técnico positivo da UICN — o que constitui um passo fundamental no processo. Tudo indica que a decisão final será favorável, mas até à votação oficial qualquer anúncio é prematuro.

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Avaliação do Polígrafo África: 

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