“Devem escrever bem. Escrevam mesmo assim: cidade de Luanda sofre limpeza de leve por causa [da vinda] do chefe de João Lourenço, Joe Biden”. O comentário é de um leitor numa publicação de uma das contas de Instagram mais seguidas de Angola: o Xaa, que destacava, a 28 de Setembro, que a cidade de Luanda recebia “melhorias no âmbito do programa ‘Fachada Pintada’”.
Muitos comentários e várias outras publicações nas redes sociais convergem na ideia de que as obras em curso na capital angolana, em vários pontos da cidade, estarão associadas à visita oficial do Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, agendada para os dias 13 a 15 de Outubro.
Estes comentários são, aliás, integrantes de um leque de posicionamentos nas redes sociais contra as imagens de embelezamento filmadas em várias artérias da capital do país. Na referida publicação, um internauta manifesta indignação pelo facto de só se efectuar reabilitações em Luanda em véspera da chegada de individualidades com peso mundial.
“Luanda, para melhorar minimamente, o segredo está nas visitas internacionais”, ironiza-se noutro exemplo de publicação sugerindo que as reabilitações em Luanda só acontecem quando recebe visitas de dirigentes políticos de outros países. Nesse sentido há mesmo quem aponte para um “efeito Biden” que terá “forçado” o Governo de Angola a avançar com as obras de requalificação, em modo intensivo, como tem sido visível nas ruas da cidade, nos últimos dias (e noites).
Também deparamos com críticas mais contundentes, por exemplo: “Isso devia ser uma rotina, é uma vergonha quando se arruma a casa apenas quando se recebe uma visita só para dar boa impressão, no fundo vivemos por cima do lixo”; “O país não pertence aos angolanos, mas sim aos estrangeiros”; “No Ocidente também é assim: o papá vem aí e amanhã tudo é varrido?”
Esta onda de publicações sobre as obras em Luanda surgiu poucos dias depois de a Embaixada dos EUA em Angola e São Tomé e Príncipe ter confirmado a vinda do Presidente Joe Biden a Angola, num périplo entre os dias 13 e 15 de Outubro. Mas será que as obras estão directamente relacionadas com essa visita?
Em resposta ao Polígrafo África, o director do Gabinete de Comunicação Social do Governo Provincial de Luanda (GPL), Wilson dos Santos, garante que o programa de conservação da cidade de Luanda é anterior à confirmação da visita oficial de Biden. O responsável assegura também que, “nos últimos meses”, o GPL tem publicado informações sobre as melhorias no âmbito do programa.
Por outro lado, o representante do GPL indica que o programa faz parte dos projectos inscritos no Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2024, mais especificamente na rubrica “Construção, Reabilitação, Conservação e Manutenção dos Edifícios Públicos e Equipamentos Sociais”.
“O programa prevê melhorias substanciais em diversos municípios e locais emblemáticos da cidade”, informa, apontando que os locais abrangidos na primeira fase de recuperação são as áreas verdes da Baía de Luanda, zona envolvente ao Aeroporto Internacional “4 de Fevereiro” e Samba. Relativamente ao número de edifícios, o GPL seleccionou 48 no total.
O Polígrafo África verificou entretanto que, para o presente ano de 2024, a verba prevista para as despesas do programa “Construção, Reabilitação, Conservação e Manutenção dos Edifícios Públicos e Equipamentos Sociais” no OGE é de 1,3 mil milhões de kwanzas, o que representa uma diminuição substancial face aos mais de 5 mil milhões de kwanzas que estavam inscritos para o mesmo fim no OGE de 2023.
Apesar da redução da verba orçamentada, o facto é que as obras se intensificaram desde a confirmação da visita de Biden, na semana passada, tendo o Polígrafo África verificado que há operários e máquinas a labutar dia e noite para mudar o visual da capital do país. Uma situação que não ocorreu em 2023, quando a verba para essas obras de requalificação era quase cinco vezes superior.
Mesmo em 2022, ano de eleições gerais em Angola, a dotação orçamental que estava prevista no OGE para dar cobertura ao programa de reabilitação ascendeu a perto de 2,5 mil milhões de kwanzas, quase o dobro em comparação com 2024.
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Avaliação do Polígrafo África: