A posição do chefe da missão diplomática palestiniana em Angola foi expressa numa nota enviada ao Polígrafo África, em reacção às declarações proferidas por João Lourenço durante a visita oficial a Angola da Presidente da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan.
Falando a partir da Cidade Alta, em Luanda, o Chefe de Estado angolano criticou aquilo a que classificou como “punição colectiva” e a “eliminação indiscriminada de civis, mulheres e crianças” levada a cabo pelo exército israelita. Defendeu ainda que a única solução viável para o conflito israelo-palestiniano, que já se arrasta há 78 anos, passa pelo cumprimento da Resolução 181 da Organização das Nações Unidas (ONU), que determina a criação de um Estado palestiniano.
Na nota enviada ao Polígrafo África, o embaixador Jubrael Alshomali enaltece a postura do Presidente angolano, afirmando que este “merece o respeito e a consideração de todos os países e povos livres do mundo”. Lamenta, por outro lado, a incapacidade da ONU em fazer cumprir as resoluções aprovadas pela Assembleia Geral, devido à composição e funcionamento do seu Conselho de Segurança.
Contrariando uma narrativa histórica amplamente difundida — segundo a qual os países árabes teriam tentado expulsar os judeus da Palestina no dia seguinte à proclamação da independência de Israel, em 1948 — Alshomali sustenta que foram, na verdade, grupos sionistas armados os primeiros a lançar ataques contra os palestinianos.
“Em 1948, não ocorreram operações militares árabes com o objectivo de expulsar os judeus da Palestina. O contrário é que é verdadeiro: organizações sionistas armadas, como a Stern Gang, o Irgun e a Haganah, lançaram ataques violentos contra aldeias e cidades palestinianas, resultando na morte de cerca de 15 mil palestinianos, na destruição de 532 localidades, na ocorrência de 54 massacres e na expulsão de aproximadamente um milhão de palestinianos das suas terras e casas”, sublinha o diplomata palestiniano.
As relações entre Angola e a Palestina remontam ao período anterior à independência angolana. Os palestinianos apoiaram activamente a luta de libertação contra o regime colonial português, e, após a proclamação da independência, o Estado angolano tem-se mantido solidário com a causa palestiniana, nomeadamente no que diz respeito ao direito à criação de um Estado soberano.
Essa posição tem gerado fricções diplomáticas. Em 2023, poucos dias após o ataque de 7 de Outubro — em que o Hamas entrou em território israelita, provocando cerca de 1.200 mortos e destruindo diversas infraestruturas —, o embaixador de Israel em Angola, Shimon Solomon, manifestou publicamente o seu desagrado face à postura do Governo angolano, considerando-a tendenciosa e desproporcional face à gravidade do ataque.