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General Chiwale apoiou a candidatura de Chivukuvuku no X Congresso da UNITA em 2007?

Política
O que está em causa?
O co-fundador da UNITA, José Samuel Chiwale, de 82 anos, acusou recentemente Abel Chivukuvuku, actual presidente do PRA-JA e antigo militante da UNITA, de traição, na sequência do anúncio de que o seu partido poderá abandonar a Frente Patriótica Unida (FPU) — plataforma informal pela qual a UNITA e os seus parceiros obtiveram 90 deputados nas eleições de 2022 —, caso esta não venha a transformar-se numa coligação política formalmente reconhecida pelo Tribunal Constitucional.

A acusação gerou forte polémica nas redes sociais, onde vários internautas questionaram a coerência de José Chiwale, alegando que este teria apoiado a candidatura de Abel Chivukuvuku à presidência da UNITA durante o X Congresso Ordinário do partido, realizado em 2007, no qual Chivukuvuku foi derrotado por Isaías Samakuva.

Chivukuvuku, que militou na UNITA durante mais de três décadas e meia, está no centro das discussões sobre o futuro da FPU, plataforma política através da qual a UNITA incorporou o Bloco Democrático, o PRA-JA Servir Angola e membros da sociedade civil. Os resultados eleitorais alcançados pela UNITA em 2022, com base nesta aliança, foram os melhores da sua história e há expectativas de que o partido possa vencer as eleições de 2027 caso volte a concorrer com a mesma configuração.

O anúncio de que o PRA-JA não integrará a FPU nas próximas eleições foi, por isso, recebido com desagrado por dirigentes da UNITA, parceiros da plataforma e sectores da sociedade civil que viam na FPU um instrumento estratégico para a alternância política. A decisão levantou suspeitas de que Chivukuvuku e os seus correligionários no PRA-JA tenham agido em conformidade com um alegado acordo prévio com o Presidente João Lourenço, que teria culminado na legalização do partido após um longo processo judicial.

À margem da mais recente reunião da Comissão Política da UNITA, realizada a 24 de Maio, o general na reforma José Samuel Chiwale afirmou que Abel Chivukuvuku representa um perfil de “traidor“, sugerindo que o antigo dirigente do partido tem vivido de “hecatombe em hecatombe”.

Perante a controvérsia gerada, o Polígrafo África investigou a alegação de que Chiwale teria apoiado Chivukuvuku no X Congresso de 2007. No entanto, não foi encontrado qualquer registo que a confirme.

Contactado pelo Polígrafo África, Ernesto Mulato — histórico militante da UNITA e antigo vice-presidente do partido — desmente categoricamente a alegação, sublinhando que, no referido congresso, José Chiwale manifestou apoio a Isaías Samakuva.

Também em declarações ao Polígrafo África, Evaldo Evangelista, secretário para a Comunicação e Marketing da UNITA, rejeita a ideia de que Chiwale tenha alguma vez apoiado Chivukuvuku: “O único momento em que o mais velho Chiwale esteve próximo de Abel foi em 2011, aquando do Grupo de Reflexão. Mas mesmo nessa altura, no Huambo, o mais velho foi apenas convidado a permanecer na sala da reunião, contrariamente ao Abel”, recordou.

O chamado “Grupo de Reflexão” marcou um dos períodos de maior turbulência interna na UNITA. Composto por quadros alinhados com Chivukuvuku, o grupo acusava a liderança de Samakuva de resistir à convocação do XI Congresso do partido. Em resultado desse facto, foram desencadeadas várias acções de contestação interna.

Na sequência dos acontecimentos, Chivukuvuku, Chiwale e Paulo Lukamba “Gato” participaram numa conferência de imprensa do Grupo, o que levou a direcção do partido a acusá-los de estarem por detrás da iniciativa. Foram então abertos inquéritos internos. Abel Chivukuvuku acabou por ser suspenso durante 45 dias da sua militância, episódio que debilitou a sua posição no seio do partido.

A tensão viria a dissipar-se nos meses seguintes, culminando com a saída de Abel Chivukuvuku da UNITA. Em Abril de 2012, o político anunciou a fundação da CASA-CE, plataforma através da qual se candidataria às eleições legislativas desse ano.

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Avaliação do Polígrafo África: 

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