“A filha [Cristina Lourenço] do Presidente João Lourenço vai, efectivamente, presidir à Bodiva, que é a maior bolsa de valores de Angola. Quando também se andou atrás da Isabel dos Santos que tinha sido nomeada PCA da Sonangol pelo pai dela [José Eduardo dos Santos]. O João Lourenço comete, efectivamente o mesmo erro”, referiu Adriano Sapiñala, deputado à Assembleia Nacional e secretário provincial da UNITA em Luanda.
Durante a entrevista concedida à Rádio Ouvinte, com excertos que têm sido partilhados viralmente nos últimos dias no Facebook, o líder do partido dos “maninhos” na capital do país afirmou que o Chefe de Estado angolano “falhou” o seu objectivo de acabar com o nepotismo na máquina administrativa pública, sublinhando que João Lourenço está “amarrado” ao sistema e “não consegue se desfazer”.
“O problema é que o sistema, repito, foi montado nesta perspectiva. O presidente João Lourenço tinha dito que vamos combater o nepotismo e não está a combater absolutamente nada”, apontou Sapiñala.
As declarações do deputado da UNITA surgiram após a filha do Presidente da República, Cristina Lourenço, assumir a liderança interina da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (Bodiva), tendo dado como comparação o caso de nomeação de Isabel dos Santos para a liderança da Sonangol, em 2016.
Mas, de facto, João Lourenço nomeou a sua filha Cristina Lourenço como José Eduardo dos Santos fez com Isabel dos Santos Sonangol?
A resposta é não. Aliás, o Polígrafo África já o havia esclarecido há cerca de um mês, quando começaram a circular várias informações de um alegado acto de nepotismo na ascensão de Cristina Lourenço ao cargo de CEO (presidente executiva) da Bodiva.
Na verdade, não foi o Presidente João Lourenço quem nomeou Cristina Dias Lourenço presidente executiva da Bodiva, nem tem prerrogativas constitucionais para o fazer.
Formada na formada pela London School of Economics and Political Sciences, Londres (Reino Unido), Cristina Lourenço foi escolhida interinamente para a liderança na sequência de uma deliberação do Conselho de Administração da instituição, segundo o comunicado a que o Polígrafo teve acesso à época dos factos.
A escolha da filha do chefe do Estado angolano, justificou a Bodiva em nota enviada ao Polígrafo África, foi feita por se tratar do quadro mais antigo entre os membros do Conselho de Administração.
“A nomeação dos novos membros foi a cooptação nos termos da alínea b) do n.2 do artigo 425 da LSC e sendo a cooptação uma competência do Conselho de Administração, entendeu-se por razões de equidade e objectividade trazer supletivamente a regra do direito público em ser o membro mais antigo do Conselho de Administração. Um exemplo muito prático é o Estatuto Orgânico da Comissão de Mercados de Capitais (CMC), que nos é mais próximo, no artigo 12º, dispõe que em caso de impedimento ou vacatura do cargo, exerce os poderes de presidente da CMC, o administrador mais antigo ou, em caso de igualdade de circunstâncias, o mais velho”, lê-se na resposta endereçada ao Polígrafo África.
Depois de ser inicialmente ter sido escolhida para liderar interinamente a BODIVA, na sexta-feira, 28 de Março, Cristina Lourenço foi indicada pelos accionistas como presidente executiva de pleno direito para o quadriénio 2025-2029.
Contactado pelo Polígrafo África, Adriano Sapiñala sublinhou que mantém as suas palavras sobre o caso.
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Avaliação do Polígrafo África: