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Moçambicanos bloqueiam estradas em protesto contra o elevado custo de vida, apesar da trégua anunciada por Mondlane?

Política
O que está em causa?
Venâncio Mondlane anunciou uma trégua nas manifestações por um período de três meses, mas entretanto continuam a ser difundidos vídeos nas redes sociais que mostram bloqueios nas estradas.

“Estradas fechadas, Governo escuta? Mais uma vez, Moçambique assiste a uma onda de bloqueios como forma de protesto contra o alto custo de vida. A EN1 [Estrada Nacional n.º 1], na Macia, a via rápida para Ponta do Ouro e a EN2 [Estrada Nacional n.º 2], em Namaacha, foram obstruídas por manifestantes que exigem a redução dos preços dos produtos básicos”, destaca-se numa publicação de 17 de Fevereiro no Facebook, exibindo um vídeo com imagens dos supostos bloqueios.

De acordo com o mesmo texto, “pneus queimados, pedras e até um autocarro atravessado na estrada marcaram as paralisações. Estes são os métodos a que a população recorre para tentar ser ouvida pelo Governo“.

Noutra publicação, também com um vídeo que já acumula mais de 50 mil visualizações e milhares de reacções, parece ver-se um grupo de jovens a interditar a Avenida Marginal com contentores de lixo e pneus. Várias viaturas são obrigadas a recuar, incluindo uma coluna de carros onde, alegadamente, se encontrava a Primeira-Ministra de Moçambique, Maria Benvinda Levi.

De referir que, em Janeiro deste ano, Venâncio Mondlane anunciou uma trégua nas manifestações por um período de três meses, advertindo que, caso o Governo não cumprisse as medidas anunciadas, entre as quais a suspensão do pagamento das portagens, as ruas voltariam a registar grandes marchas de protesto.

Mas será verdade que, apesar da trégua anunciada por Mondlane, alguns jovens continuam a bloquear estradas devido ao elevado custo de vida?

Sim. O Polígrafo África confirmou essa situação em várias avenidas de Maputo e falou com participantes nos protestos. Um grupo de jovens disse que o objectivo é “chamar a atenção do Governo, todos os dias“.

“Com os bloqueios e protestos, queremos chamar a atenção do Governo, que nos ignora. Queremos que o custo de vida seja resolvido“, sublinhou Renato Manuel, um dos participantes.

Recentemente, o Presidente da República, Daniel Chapo, afirmou que o Governo está a estudar várias medidas para mitigar as dificuldades das famílias, destacando a possibilidade de “retirada do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) nos produtos da cesta básica”.

“Todas estas medidas, nos próximos dias, farão com que os moçambicanos sintam que o Governo está atento, a trabalhar e focado na recuperação da economia. Mas tudo isto só é possível com paz, harmonia social, económica e política”, defendeu o Presidente, apelando novamente ao fim dos actos de vandalismo e destruição.

Sobre o anúncio do Chefe de Estado e a reacção popular nas ruas, a economista Estrela Charles afirmou ao Polígrafo África que a proposta de redução do IVA é bem-vinda, mas sublinhou que deve ser acompanhada de outras medidas para produzir os efeitos desejados.

“A retirada do IVA não pode ser aplicada isoladamente, porque, se assim for, não trará benefícios ao consumidor final. Pelo contrário, pode ter efeitos negativos”, observou a economista, recordando que Moçambique tem isenção de IVA em produtos como açúcar e óleo há mais de 15 anos. Apesar disso, os preços para o consumidor final mantiveram-se sempre elevados.

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Avaliação do Polígrafo África:

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