Venâncio Mondlane e o Podemos, partido extraparlamentar que o apoiou para a Presidência da República, enfrentam a primeira divergência pública, que pode minar a coesão que os tem caracterizado desde os acordos coligatórios firmados em Agosto de 2024 até este período de instabilidade pós-eleitoral.
A divergência surge do facto de o Podemos, organização política criada por dissidentes da Frelimo, partido no poder, em Maio de 2019, pretender autorizar os deputados eleitos pela sua lista a tomar posse na Assembleia da República, cuja cerimónia está aprazada para o dia 13 de Janeiro, dois dias antes da investidura de Daniel Chapo como Presidente da República, por decisão do Conselho Constitucional moçambicano.
Para Dinis Tivane, assessor de Venâncio Mondlane, a tomada de posse dos deputados do Podemos será um acto de “traição à pátria“, tendo em conta as mortes que decorreram como resultado da contestação eleitoral, bem como pelo facto de não se ter ainda alcançado a “verdade eleitoral”.
“A tomada de posse do partido Podemos seria sim uma traição porque o povo está a fazer uma luta, está nas ruas. Mais do que isso, é facto de o partido Podemos, na nossa contagem paralela, ter 138 assentos. Qual é razão de o partido correr para tomar posse de 43 assentos, quando o partido merece 138″, questiona Dinis Tivane, numa live feita na rede social Facebook.
Por seu turno, o Podemos, através de seu porta-voz, Duclésio Chico, manifesta-se surpreso com as declarações de Dinis Tivane, e refere que tem havido contactos regulares entre Venâncio Mondlane e o líder do Podemos, Albino Forquilha.
“O Dinis Tivane é da comissão técnica do processo eleitoral, de ambas as partes, tanto do partido Podemos, assim como do candidato Venâncio Mondlane, no âmbito do acordo que existe entre estas duas partes”, recorda Duclésio Chico, que entre outras nuances, faz saber que o partido tem realizado auscultações junto da população para saber como actuar. Ou seja, se seus deputados tomem posse ou não.
“O partido está em diversas reuniões e encontros para avaliar a opinião da população. Mas a breve trecho viremos a público informar”, assegura o porta-voz do Podemos, para quem não há qualquer afastamento entre a formação política e o candidato presidencial que apoiou nas eleições de 9 de Outubro.
Os resultados promulgados pelo Conselho Constitucional no dia 23 apontam o Podemos como maior partido de oposição em Moçambique no próximo parlamento, tirando um estatuto que era da Renamo desde as primeiras eleições multipartidárias, em 1994.
Dos 250 assentos que compõem a Assembleia da República, a Renamo passou de 60 deputados, que obteve nas legislativas de 2019, para 28 parlamentares.
A Frelimo, no poder desde a independência, manteve-se com uma maioria parlamentar, com 171 deputados.