Este vídeo de 36 segundos, publicado no Facebook, com um trecho de uma intervenção do ainda Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi , tornou-se viral logo no dia 28 de Outubro. No vídeo ouve-se Nyusi dizer: “Daniel Francisco Chapo teve 4.912.758 correspondente a 70,67%. Venâncio Mondlane 14 milhões, como é isso Nuno? 1.412.511, vamos pela percentagem.”
Os números são referentes às eleições presidenciais de 9 de Outubro, cujo resultado não é aceite pelo candidato que ficou em segundo lugar, Venâncio Mondlane (apoiado pelo Podemos), sob a alegação de fraude, o que está a originar uma onda de tumultos no país.
Foi justamente este clima social e político conturbado que levou o chefe de Estado moçambicano a convocar todos os embaixadores do país espalhados pelo mundo para uma reunião virtual, a realizar no dia 28 de Outubro, com um ponto único na agenda: “Actualizar sobre o ponto de situação do país pós-eleitoral.”
É dessa reunião por videoconferência o excerto que, depois, se tornou viral nas redes sociais. As palavras de Nyusi foram, de facto, aquelas: não houve montagem ou adulteração através de Inteligência Artificial, embora em muitas publicações o vídeo seja ainda mais curto e termine quando o protagonista diz “14 milhões”.
O Polígrafo África escolheu uma publicação com o vídeo alguns segundos mais longo para poder evidenciar que a referência a “14 milhões” foi um lapso do Presidente moçambicano que, de resto, o próprio corrigiu de imediato (“1.412.511”), depois de ser ajudado por um assessor (“como é isso Nuno?”). Nyusi baralhou-se com com a separação do 1 e do 4 (as unidades e as dezenas de milhões) e tomou, em primeira instância, o 1,4 milhões como 14 milhões.
No entanto, bastaria a primeira parte da leitura dos resultados, ou seja, a enunciação da percentagem de votantes do outro candidato (Daniel Chapo, da Frelimo) – 4.912.758 / 70,67% – para se entender que o número de votantes atribuído a Mondlane estava errado (o número de votantes nesta eleição rondou os 7,46 milhões) e que este nunca poderia ser o vencedor (restavam apenas 29,33% do universo de eleitores que exerceram o voto).
Estes foram os resultados oficiais divulgados no dia 24 de Outubro pela Comissão Nacional de Eleições (mas ainda não validados pelo Conselho Constitucional):
Total de votantes: 7.464.822
Daniel Chapo: 4.912.758 (70,67%)
Venâncio Mondlane: 1.412.511 (20,32%)
Assim, é falso que o Presidente Filipe Nyusi tenha referido, intencionalmente, que Mondlane obteve 14 milhões de votos. Tratou-se de um lapso, logo a seguir retificado, para além de que o referido número era aritmeticamente impossível, atendendo aos votos e percentagem de Chapo, imediatamente antes anunciados.
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Avaliação do Polígrafo África: