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Nelito Ekuikui: “Quando o Presidente Dos Santos deixou o poder, a nota de 100 euros valia aí uns 15 a 16 mil kwanzas”

Política
O que está em causa?
Em entrevista ao jornal português Expresso, o deputado e líder da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), Nelito Ekuikui, afirmou que, desde a chegada ao poder do actual Presidente da República, João Lourenço, têm-se registado mais celebrações de contratos por ajuste directo. O político da UNITA destacou ainda a acentuada desvalorização do kwanza face a moedas estrangeiras, referindo que, em 2017, a nota de 100 euros valia “uns 15 a 16 mil kwanzas”. Mas será esta afirmação correcta?

A corrupção está mais exposta. O actual Presidente faz contratos simplificados. É um convite de amigos para a corrupção. A crise financeira agravou-se, a crise de valores também, a inflação é alta. Angola tem fome, fome… há pessoas a morrer de fome em Angola, pessoas a comer de contentores de lixo”, declarou Ekuikui, em entrevista ao semanário português.

As declarações surgem no contexto de uma comparação entre os mandatos de José Eduardo dos Santos e João Lourenço, com o deputado a destacar diferenças significativas, sobretudo no plano económico e social.

Entre os vários pontos assinalados, Ekuikui referiu a forte desvalorização cambial, a consequente perda do poder de compra e a alegada estagnação do investimento em infra-estruturas sociais. “Só para fazer uma comparação: quando o Presidente Dos Santos deixou o poder, a nota de 100 euros valia aí uns 15 a 16 mil kwanzas. Hoje está a 120 mil kwanzas. A nossa moeda não tem valor absolutamente nenhum. O salário mínimo nacional está nos 70 e tal mil kwanzas, o que equivale a cerca de 65 a 69 euros”, afirmou.

Mas será verdade que, em 2017, 100 euros valiam apenas 15 a 16 mil kwanzas?

Segundo dados oficiais do Banco Nacional de Angola (BNA), não. A taxa de câmbio oficial publicada pelo banco central a 26 de Setembro de 2017 — data em que José Eduardo dos Santos passou formalmente o poder a João Lourenço — indica que 1 euro valia 184 kwanzas. Isso significa que 100 euros estavam avaliados em 18.400 kwanzas, e não entre 15.000 e 16.000, como referiu o deputado.

 

De acordo com o histórico cambial do BNA, esta taxa manteve-se estável ao longo de vários meses em torno dos 184 kwanzas por euro.

Importa, no entanto, referir que existia, à época, uma grande discrepância entre as taxas de câmbio do mercado oficial e do mercado informal (paralelo). Esta diferença foi uma das razões que levou o BNA a lançar, em 2018, o Programa de Estabilidade Macroeconómico (PEM), cujo objectivo era reduzir o fosso entre os dois mercados, estabelecendo como meta uma diferença máxima de 20%.

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Avaliação do Polígrafo África:

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