Este ano, a República de Angola comemora o 50.º aniversário da sua independência. Para assinalar a data, estão a ser promovidos vários eventos institucionais e mediáticos com o intuito de preservar a memória histórica do processo de emancipação nacional. Por iniciativa do Executivo, a Assembleia Nacional aprovou uma lei que institui a Medalha Comemorativa dos 50 Anos da Independência Nacional.
No quadro destas comemorações, várias personalidades ligadas à luta de libertação e à fundação do Estado angolano têm sido convidadas a partilhar os seus testemunhos através dos meios de comunicação social.
Foi neste contexto que Ngola Kabangu, antigo dirigente da FNLA e então ministro do Interior do Governo de Transição de 1975, concedeu uma entrevista à RNA, na quarta-feira, 16 de Abril, onde fez uma declaração que apanhou muitos de surpresa: segundo ele, ao contrário do que se acredita, não foi Jonas Savimbi quem proclamou pessoalmente a independência de Angola pela UNITA, no Huambo.
“Houve três momentos da independência”, afirmou Kabangu. “O MPLA, apoiado pelos seus aliados internacionalistas, proclamou a República Popular de Angola no Largo Primeiro de Maio [em Luanda]; a UNITA proclamou [a independência] no Huambo, por intermédio de um membro, mas não por Jonas Savimbi pessoalmente. E no Uíge, por ordem de Álvaro Holden Roberto, presidente da FNLA – que se encontrava na frente de combate no Ambriz -, às zero horas mandei arriar a bandeira portuguesa. Foi dobrada com todo o respeito. Como não tínhamos ainda uma bandeira angolana consensual, mandei hastear a bandeira da FNLA e, como também não havia hino nacional, foi entoado o hino da FNLA”, relatou.
Será mesmo verdade que Jonas Savimbi não esteve presente na proclamação da independência pela UNITA?
Sim, confirmou Ernesto Mulato, antigo vice-presidente da UNITA, em resposta ao Polígrafo África.
De acordo com Mulato – que militou ao lado de Jonas Savimbi desde os tempos da UPA (União dos Povos de Angola), ainda antes da fundação da UNITA em 1966 -, foi N´Zau Puna quem proclamou, em nome da UNITA, a independência no Huambo.
“O doutor Jonas Savimbi encontrava-se na altura na África do Sul”, explicou Mulato. “Ele partiu um dia antes do 11 de Novembro de 1975, data acordada no Acordo de Alvor para a proclamação da independência de Angola”.
Recorde-se que o Acordo de Alvor, assinado em Janeiro de 1975 pelos líderes dos três movimentos de libertação – António Agostinho Neto (MPLA), Álvaro Holden Roberto (FNLA) e Jonas Savimbi (UNITA) – estabelecia essa data como marco oficial para a declaração da soberania do Estado angolano, pondo fim formal ao domínio colonial português.
Segundo as palavras de Mulato, coube a N’Zau Puna, então um dos quadros mais influentes da UNITA, fazer a proclamação no Huambo. Curiosamente, Puna viria mais tarde a deixar a UNITA, filiando-se no MPLA, pelo qual foi deputado à Assembleia Nacional e desempenhou funções diplomáticas, incluindo o cargo de embaixador.
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Avaliação do Polígrafo África: