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Ngola Kabangu: “UNITA era o elo mais fraco da corrente” entre FNLA e MPLA, em 1974

Política
O que está em causa?
Antigo ministro do Interior do Governo de Transição, em 1975, o primeiro Executivo assumido pelos angolanos, Ngola Kabangu faz duras críticas pela forma como os portugueses conduziram o processo de descolonização de Angola. Em entrevista ao "Novo Jornal" recorda que Portugal terá procurado isolar a FNLA, através de um entendimento entre o MPLA e UNITA que seria "o elo mais fraco".
© Agência Lusa / Ricardo Bordalo

“O parceiro [dos portugueses] era o MPLA e dizia-se na altura por razões ideológicas e culturais. (…) E a parte portuguesa tentou ainda um noivado entre o MPLA e a UNITA que, naquela altura, era o elo mais fraco da corrente (…). Foram até Portugal e lá não se entenderam”, contou Ngola Kabangu, antigo presidente da FNLA, quando fazia uma incursão histórica relacionada com a independência do país, na entrevista ao “Novo Jornal” publicada na edição de 31 de Janeiro.

Apontado então como delfim de Holden Roberto, líder histórico da FNLA (já falecido), Kabangu – que ocupou o cargo de ministro do Interior no Governo de Transição, em 1975, assim como o de coordenador do Serviço de Segurança da FNLA – mantém as críticas que sempre direccionou à Administração portuguesa da altura, responsável pelo processo de descolonização de Angola.

Para Kabangu, os portugueses não queriam sair de Angola, tendo por isso optado por ter um parceiro interno que, na sua perspectiva, foi o MPLA.

“Tudo foi torpedeado e o Governo [de Transição] não funcionou. Houve ruptura”, lembrou Kabangu. Após sublinhar que não pretendia nem ofender, nem insultar a UNITA, referiu que os portugueses, ao tentarem isolar a FNLA, procuraram “um noivado” entre os “camaradas” e os “maninhos”, pelo facto de o actual maior partido na oposição angolana ter sido, na altura, o “mais fraco” entre os outros dois movimentos.

É verdade que, até 1974, a UNITA era o movimento menos significativo em comparação com a FNLA e a MPLA?

Importa começar por recordar que a UNITA foi criada em 1966 por Jonas Savimbi, dissidente do movimento então denominado União das Populações do Norte de Angola (UPNA), concebido em 1954, e que mais tarde evoluiu para a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). Entretanto, ao sair da FNLA para criar a UNITA, Savimbi levou consigo alguns quadros, entre os quais se destacam Ernesto Mulato, hoje uma voz autorizada para fazer uma incursão histórica a propósito.

Em declarações ao Polígrafo África, Ernesto Mulato, antigo deputado à Assembleia Nacional de Angola e ex-vice-presidente da UNITA, reconhece que em 1974 a organização a que pertence era menos robusta face aos outros dois movimentos. Ainda assim sublinha que “foi o movimento” que naquela época “provocou mais danos aos portugueses”, apesar de os outros dois movimentos terem mais apoios internacionais.

“É preciso lembrar que a FNLA e o MPLA já tinham vários apoios internacionais, como os blocos da Monróvia e de Casablanca, além dos EUA e outros. Já a UNITA tinha pouca ajuda da China. Mas, ainda assim, tínhamos maior capacidade de mobilização popular e causávamos mais estragos, porque a direcção da UNITA conduzia a luta a partir do interior do país e eles não”, lembra Ernesto Mulato.

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Avaliação do Polígrafo África:

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