“Temos um país com muita terra, mas pouca gente a produzir. O sector da agricultura tem estado a crescer 6% nos últimos anos. Contudo, a grande questão é fazer com que os jovens se interessem pela agricultura”, afirmou Idalina Valente, durante a sua intervenção num evento promovido pela Assembleia Nacional, que teve, entre outros objectivos, a reflexão crítica sobre o papel do Parlamento na construção de políticas públicas que melhorem a vida das pessoas através da alimentação.
A insegurança alimentar em Angola tem sido amplamente debatida, sobretudo devido ao domínio do comércio alimentar por entidades empresariais estrangeiras. Para além deste quadro de monopólio externo, as populações angolanas enfrentam ainda situações de escassez de alimentos. Segundo o Relatório Mundial sobre Crises Alimentares, em 2023, cerca de 1,3 milhões de angolanos enfrentaram níveis elevados de insegurança alimentar aguda.
Mas será verdade que o sector agrícola tem crescido 6% nos últimos anos?
Os dados disponíveis indicam que o sector agrícola cresceu 6,6% na campanha agrícola 2023/2024, acima dos 5,6% registados no ano agrícola anterior. Se recuamos até 2018, verifica-se que o sector registou uma contracção de 2%, tendo, contudo, conhecido uma trajectória de crescimento oscilante nos anos subsequentes, com taxas situadas entre 5% e 6%.
Em 2022, a produção agrícola situou-se em cerca de 24,8 milhões de toneladas, o que representou um aumento de 5,6% face a 2021. As culturas de raízes e tubérculos lideraram a produção, com quase 13 milhões de toneladas. Seguiram-se as frutas, com aproximadamente 6 milhões de toneladas, os cereais, com 3,2 milhões de toneladas, as hortícolas, com cerca de 2 milhões de toneladas, e, por fim, as culturas leguminosas e oleaginosas, que totalizaram cerca de 622 mil toneladas.
Portanto, atribuímos o selo “verdadeiro… mas” à declaração de Idalina Valente, segundo a qual o sector agrícola tem crescido 6% nos últimos anos. Isto porque, embora os dados confirmem taxas de crescimento próximas desse valor, a evolução tem sido variável e não linear, oscilando entre 5% e 6%, com episódios de retracção em anos anteriores.
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Avaliação do Polígrafo África: