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Polícia moçambicana impediu manifestação pacífica contra a falta de combustível em Nampula?

Sociedade
O que está em causa?
Publicações partilhadas em plataformas digitais, com destaque para o Facebook e o WhatsApp, dão conta de que a Polícia da República de Moçambique (PRM), na província de Nampula, impediu no passado sábado, 31 de Maio, a realização de uma manifestação pacífica organizada por membros da sociedade civil para protestar contra a escassez de combustível que afecta toda a província. Mas será esta alegação verdadeira?
Um cenário de caos, barricadas, destruição e saques marca hoje a cidade de Maputo, um dia depois da proclamação dos resultados das eleições gerais, mas no meio das mesmas avenidas, bloqueadas por manifestantes, também se cozinha arroz com repolho, Maputo, Moçambique, 24 de dezembro de 2024. LUÍSA NHANTUMBO/LUSA

“A Polícia da República de Moçambique (PRM) voltou a impedir, no sábado, uma manifestação em Nampula contra a persistente crise de combustível que afecta a província, bem como o silêncio das autoridades governamentais sobre a escassez, que já se prolonga há mais de dois meses”, lê-se numa publicação datada de 3 de Junho.

Nas redes sociais, muitos internautas questionam a imparcialidade das autoridades policiais em Moçambique, levantando suspeitas de que as restrições à realização de manifestações são selectivas e politicamente motivadas.

“Quando é para saudar os 100 dias, ninguém impede“, comentou um utilizador do Facebook. “E quando for a FRELIMO a manifestar? Esta polícia é do partido, não é do Estado moçambicano”, escreveu outro internauta, em alusão ao partido no poder.

A polícia impediu, de facto, a manifestação?

Sim. De acordo com um documento a que o Polígrafo África teve acesso, o Comando Distrital da PRM em Nampula reconhece o direito à manifestação, consagrado na Constituição da República, mas justifica a proibição com base na alegada falta de condições de segurança para a realização da marcha em toda a extensão da província.

“O direito de reunião e manifestação são fundamentais e assegurados a todos os cidadãos na República de Moçambique, à luz do artigo 51 da Constituição. No entanto, após avaliação das condições de segurança, e considerando a actual situação da ordem pública no país — sobretudo num contexto em que o país ainda se encontra em processo de recuperação dos efeitos negativos causados pelas manifestações violentas pós-eleitorais —, concluiu-se que não estão reunidas as condições para a realização segura de manifestações”, lê-se no comunicado.

As autoridades alegam ainda que as manifestações recentes provocaram insegurança, desordem, intranquilidade, saques e violações de direitos fundamentais, incluindo o direito à propriedade, consagrado no artigo 82 da Constituição moçambicana.

Esta é já a segunda vez, em menos de dois meses, que as autoridades policiais impedem a realização de uma manifestação pacífica em Nampula, organizada por movimentos da sociedade civil para protestar contra a escassez de combustível.

E o fenómeno não se limita a esta província. Em Março último, em Maputo — capital do país — dezenas de jovens e activistas sociais tentaram organizar uma marcha pacífica na Estátua de Eduardo Mondlane, em protesto contra assassinatos e sequestros. No entanto, a iniciativa foi igualmente travada pela Unidade de Intervenção Rápida (UIR), com o argumento de que “não havia condições para a realização da marcha”.

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Avaliação do Polígrafo África: 

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