“Após a vaidade levá-lo a uma derrota eleitoral humilhante, manchando o seu curriculum vitae, Manuel Fernandes aproveita o momento de desespero da UNITA com a saída do PRA-JA da FPU — e a provável saída do BD — para que ele e os seus companheiros sejam aceites e integrem as listas de deputados da UNITA nas eleições de 2027″, lê-se numa das mensagens partilhadas em grupos de WhatsApp, cujo autor sublinha estar a assistir a um “alinhamento estranho” entre o líder da CASA-CE e a UNITA.
Esta narrativa surge em reacção às recentes posições assumidas por Manuel Fernandes, economista, que têm convergido com as da UNITA. Em Maio deste ano, por exemplo, o presidente da CASA-CE participou, em representação da coligação, numa reunião promovida pela UNITA — e que contou com a presença de representantes do Bloco Democrático, PRS, FNLA e PDP-ANA — destinada à concertação de posições políticas e à recolha de contribuições sobre a revisão do Pacote Legislativo Eleitoral, actualmente em discussão na Assembleia Nacional.
Já no início deste mês, Manuel Fernandes — igualmente presidente do PALMA, partido que integra a CASA-CE — defendeu a “união dos partidos da oposição para a criação de uma frente capaz de fazer frente ao partido no poder”, numa formulação que converge com o conceito da Frente Patriótica Unida, idealizado pela UNITA.
Mas terá Manuel Fernandes realmente descartado uma aproximação à FPU nas eleições de 2022?
Os factos indicam que sim. A Frente Patriótica Unida (FPU), plataforma política informal lançada pela UNITA em 2021, resultou de uma aliança com o PRA-JA Servir Angola e o Bloco Democrático. Naquele ano, Manuel Fernandes, recém-eleito presidente da CASA-CE, classificou publicamente dissolver a CASA-CE e integrar os seus actores à FPU como uma “aventura política“, numa entrevista concedida à TV Zimbo.
Em Dezembro do mesmo ano, numa altura em que a FPU apelava à união das forças da oposição, Manuel Fernandes afirmou não ter recebido qualquer convite formal para integrar a plataforma. Contudo, aproveitou a ocasião para esclarecer que a adesão à FPU “não estava nos planos da CASA-CE”.
O desfecho das eleições de 24 de Agosto de 2022 traduziu-se na perda total de representação parlamentar da coligação, que viu evaporarem-se os 16 deputados conquistados em 2017, quando era liderada por Abel Chivukuvuku. Com a perda dos mandatos, a CASA-CE perdeu também o acesso ao Orçamento Geral do Estado — principal fonte de financiamento de muitas organizações políticas em Angola — tendo sido forçada a devolver o emblemático edifício onde funcionava a sua sede nacional. A situação levou ainda ao despedimento dos funcionários afectos à presidência e ao secretariado da coligação.
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Avaliação do Polígrafo África: