Numa publicação divulgada pela página “Nó Kuida di Saúde” – uma plataforma digital dedicada à promoção de cuidados de saúde -, no Facebook, salienta-se: “A Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) denunciou recentemente que todos os doentes submetidos à hemodiálise no Hospital Nacional Simão Mendes teriam falecido. A denúncia foi feita pelo presidente da LGDH, Bubacar Turé.”
Em reacção, técnicos do Serviço de Hemodiálise do Hospital Nacional Simão Mendes convocaram uma conferência de imprensa na qual criticaram veementemente Turé pela alegada denúncia. Os mesmos anunciaram ainda a abertura de um inquérito interno para apurar a veracidade dos factos e proteger a reputação da unidade hospitalar.
O Presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, também veio a público desmentir categoricamente que tenha havido mortes em massa no serviço de hemodiálise. Apelou, ainda, a Bubacar Turé para que se apresente às autoridades e esclareça os contornos das suas declarações.
Entretanto, líderes da oposição, nomeadamente Domingos Simões Pereira e Nuno Nabiam, condenaram publicamente o que classificam como “perseguição” levada a cabo pelas forças de segurança contra Bubacar Turé, defendendo o seu direito à liberdade de expressão e manifestando preocupação com eventuais abusos do poder político sobre activistas e defensores dos direitos humanos.
Mas, afinal, o que foi exactamente dito pelo presidente da LGDH? Afirmou que “todos os doentes de hemodiálise morreram”?
Contactada pelo Polígrafo África, a primeira vice-presidente da LGDH, Claudina Viegas, contrapôs a narrativa amplamente difundida nas redes sociais. “Bubacar transmitiu apenas uma denúncia que a Liga recebeu. E pediu investigações formais. Foi uma declaração muito simples”, afirmou, rejeitando que tenha havido uma acusação directa ou categórica por parte do presidente da organização.
Viegas fez ainda questão de recordar o precedente conhecido como o “caso do oxigénio”, em que a LGDH exerceu pressão pública que terá contribuído para a retoma da produção de oxigénio no Hospital Nacional Simão Mendes, após a transferência de fundos específicos para esse fim. “Esse episódio mostra como a acção da Liga pode ser determinante na salvaguarda de vidas humanas”, sublinhou.
Numa gravação de áudio divulgada nas redes sociais, contendo excertos da intervenção de Bubacar Turé na semana passada, ouve-se o presidente da LGDH afirmar que a sua organização recebeu uma denúncia preocupante e, como tal, a apelar à imprensa para investigar. A gravação contém declarações como:
“Chamámos a atenção do Governo e de outros actores relevantes para a complexidade dos serviços de hemodiálise. Será que temos técnicos devidamente capacitados? Dispomos de recursos adequados para manter o serviço de forma plena e eficaz? Estas são questões que devem ser investigadas pelos jornalistas. Temos informações que indicam que praticamente todas as pessoas submetidas ao serviço de hemodiálise acabaram por falecer…”
O conteúdo da gravação sugere que Bubacar Turé não terá feito uma acusação directa e assertiva, mas sim um apelo à investigação jornalística, partindo de denúncias recebidas pela LGDH. A utilização da expressão “praticamente todas” demonstra uma margem de incerteza e uma formulação distinta da que tem sido atribuída ao líder da organização.
Neste contexto, Viegas considera que a acção judicial contra Turé não visa apurar responsabilidades, mas sim “silenciar” o activista e desincentivar futuras denúncias, mesmo quando fundamentadas por indícios relevantes. “É um claro ataque à liberdade de expressão e ao trabalho das organizações da sociedade civil”, frisou.
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Avaliação do Polígrafo África: