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Simeone Chiculo: “A agricultura familiar põe nas nossas mesas cerca de 80% dos alimentos de origem nacional”

Sociedade
O que está em causa?
O director-geral da Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), Simeone Chiculo, defendeu recentemente, no programa televisivo "Girassol Debate", a necessidade de reforçar os investimentos na agricultura familiar. Segundo afirmou, cerca de 80% da alimentação de origem nacional consumida pelas famílias angolanas provém deste segmento agrícola. Confirma-se?

“Muitas vezes, critica-se a agricultura familiar por ser de subsistência. Não é verdade. A agricultura familiar, como o meu colega já referiu, põe nas nossas mesas cerca de 80% dos alimentos que consumimos de produção nacional. O que falta? Investimento”, declarou Chiculo, num debate dedicado aos desafios da segurança alimentar em Angola.

No mesmo programa televisivo, o director-geral da ADRA sublinhou a urgência de uma nova abordagem por parte dos decisores públicos em relação à agricultura familiar. Além de políticas, documentos e normativos, defende a necessidade de alocação efectiva de recursos.

Reconhecendo que Angola enfrenta diversos constrangimentos estruturais, Chiculo apontou a revisão do orçamento dedicado ao sector agrícola como um passo essencial. Destacou ainda o elevado potencial de terras aráveis e outros recursos naturais que, no seu entender, estão subaproveitados.

“Temos terrenos verdes. Fala-se em 35 milhões, até 50 milhões de hectares de terras aráveis. Temos uma bacia hidrográfica invejável. A maior parte da população é jovem, o que significa que temos força de trabalho disponível. Estão reunidas as condições básicas para o sucesso da actividade agrícola”, afirmou.

Mas será que a agricultura familiar assegura 80% da produção nacional de Angola?

Dados oficiais e declarações de responsáveis públicos sustentam essa estimativa. O ex-secretário de Estado para a Economia – actualmente para o Investimento Público -, Ivan Marques dos Santos, já tinha afirmado que a agricultura familiar representa 80% de toda a produção agrícola nacional, sendo um dos pilares da estratégia de diversificação económica.

Apesar disso, Angola continua fortemente dependente da importação de alimentos. De acordo com dados do Banco Nacional de Angola (BNA), só no ano passado as importações de bens alimentares cresceram 5,11% face a 2023, atingindo um total de 99,6 milhões de dólares.

Este contraste entre o peso da produção agrícola familiar e a elevada factura alimentar externa aponta para um desafio estrutural: a escassa transformação e distribuição dos produtos agrícolas locais, aliada a fragilidades logísticas e de comercialização, que limitam o aproveitamento pleno do que se produz no país.

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Avaliação do Polígrafo África:

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