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Violência política em Moçambique: Advogado e mandatário do partido de Venâncio Mondlane assassinados a tiro

Política
O que está em causa?
Elvino Dias (advogado de Venâncio Mondlane, candidato à Presidência da República de Moçambique) e Paulo Guambe (mandatário do Podemos, partido que apoia a candidatura de Mondlane) foram baleados no centro de Maputo, vítimas de uma emboscada. Em reacção, Mondlane disse que o "sangue" das vítimas "tem de ser vingado" e convocou marchas pacíficas para amanhã em várias cidades de Moçambique.
© Agência Lusa / Luísa Nhantumbo

Na noite de sexta-feira, 18 de Outubro, Elvino Dias (advogado de Venâncio Mondlane, candidato à Presidência da República de Moçambique) e Paulo Guambe (mandatário do Podemos, partido que apoia a candidatura de Mondlane) seguiam numa viatura no centro de Maputo que foi alvo de uma emboscada. Testemunhas oculares dão conta de dezenas de tiros disparados sobre o automóvel, resultando na morte de Dias e Guambe.

O advogado Elvino Dias, conhecido defensor de casos de direitos humanos em Moçambique, era assessor jurídico de Venâncio Mondlane e da Coligação Aliança Democrática (CAD), formação política que apoiou inicialmente aquele candidato a Presidente da República de Moçambique, até a sua inscrição para as eleições gerais de 9 de Outubro ter sido rejeitada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Venâncio Mondlane viria depois a ser apoiado na sua candidatura pelo partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), cujo mandatário nacional das listas às legislativas e provinciais, Paulo Guambe, também seguia no automóvel.

Entretanto, a polícia confirmou este sábado (19 de Outubro) que o veículo em que seguiam Elvino Dias e Paulo Guambe foi “emboscado” e um terceiro ocupante ferido – uma mulher que seguia no banco traseiro que foi atingida a tiro nos membros superiores, não correndo risco de vida.  “Foram abordados e bloqueados por duas viaturas ligeiras de onde desembarcaram indivíduos que, munidos de armas de fogo, fizeram vários disparos que provocaram ferimentos e a morte dos indivíduos acima identificados”, disse à Agência Lusa o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) da cidade de Maputo, Leonel Muchina.

Segundo a mesma fonte, as vítimas tinham estado a confraternizar num mercado de Maputo, tendo ocorrido “supostamente” uma “discussão derivada de assuntos conjugais”, de onde “posteriormente terão sido seguidos”.

“Apelamos a todos os mandatários de partidos políticos, cabeças de lista e outras figuras a se furtarem de frequentarem locais expostos e suscetíveis de ocorrência de crimes. (…) E apelamos também à calma e serenidade das pessoas”, acrescentou o porta-voz da PRM.

À espera dos resultados eleitorais

Estes assassinatos no centro da capital de dois elementos próximos de Mondlane surgem numa altura em que se aguarda pela divulgação dos resultados finais das eleições gerais, sendo Mondlane um dos candidatos à Presidência da República.

Em reacção logo no dia seguinte, Mondlane convocou marchas pacíficas em Moçambique para segunda-feira (21 de Outubro), repudiando o homicídio dos dois apoiantes e citando a Bíblia ao defender que o “sangue” das vítimas “tem de ser vingado“. Também responsabilizou as Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique pelo sucedido.

“Na segunda-feira vai ser a primeira etapa, pacífica, em que nós vamos paralisar toda a actividade pública e privada. Vamos para a rua com os nossos cartazes, vamos manifestar o nosso repúdio”, afirmou ontem Mondlane, durante uma vigília com dezenas de pessoas no local do homicídio dos dois apoiantes. Garantiu então que a greve (nos sectores público e privado) que tinha pedido para segunda-feira, em contestação aos resultados preliminares das eleições de 9 de Outubro, é para manter, mas passando agora para a rua.

As eleições gerais de 9 de Outubro em Moçambique incluíram as sétimas presidenciais – às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite de dois mandatos – em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.

A CNE tem 15 dias, após o fecho das urnas, para anunciar os resultados oficiais das eleições, data que se cumpre em 24 de Outubro, cabendo depois ao Conselho Constitucional a proclamação dos resultados, depois de concluída a análise, também, de eventuais recursos, mas sem um prazo definido para esse efeito.

As comissões distritais e provinciais de eleições já concluíram o apuramento da votação das eleições gerais de 09 de Outubro, que segundo os anúncios públicos dão vantagem à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder) e ao candidato presidencial que o partido apoia, Daniel Chapo, com mais de 60% dos votos, embora o candidato presidencial Venâncio Mondlane conteste esses resultados, alegando com os dados das actas e editais originais da votação que recolheu em todo o país.

Mondlane garantiu na quinta-feira (17 de Outubro), na Beira, centro de Moçambique, que após o anúncio dos resultados das eleições gerais vai recorrer ao Conselho Constitucional, com as actas e editais originais da votação.

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