Da Infância à vida reprodutiva e, posteriormente, ao climatério, a mulher passa por múltiplas transformações físicas e psicológicas com influência de fatores hormonais constantes.
Segundo o Global Cancer Observatory, em 2022, o cancro do colo do útero foi o 4º tipo de cancro mais comum nas mulheres. Nesse ano, foram detetados mais de 660 mil novos casos em todo o mundo e mais de 340 mil pessoas morreram com a doença.
As maiores taxas de incidência e mortalidade por cancro do colo do útero estão em países de baixa e média renda. Isso reflete grandes desigualdades devido à falta de acesso aos serviços nacionais de vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) e rastreio e tratamento do cancro do colo do útero, bem como determinantes sociais e económicos (OMS).
O cancro do colo do útero é causado por uma infecção persistente por HPV. A vacinação profilática contra o HPV e o rastreamento e tratamento de lesões pré-cancerosas são estratégias eficazes para prevenir o cancro do colo do útero e são muito económicas.
O útero está localizado na pelve feminina imediatamente posterior à bexiga e anterior ao reto. É dividido em quatro segmentos anatômicos principais (de superior para inferior): o fundo, o corpo, o istmo e o colo do útero.
O colo do útero é a porção mais inferior do útero e conecta o corpo uterino ao lúmen vaginal. Permite a passagem de espermatozoides para o útero através do canal endocervical, produz muco para facilitar a entrada dos espermatozoides, permite a passagem do sangue menstrual e funciona como canal de parto. Pelo contacto que tem com a vagina, torna-se muito mais vulnerável às infeções e a traumas, tanto pelas relações sexuais como pelo parto.
O Virus Papiloma Humano (HPV) está associado ao aparecimento do cancro do colo uterino, infeta a pele e ou mucosas (oral, genital ou anal) das pessoas, levando ao aparecimento de verrugas anogenitais (na região genital e ânus), sendo a sua transmissão por via sexual a mais frequente, o que a torna numa Infecção Transmissível Sexualmente (ITS) podendo ser transmitida por contacto oral-genital, manual-genital, genital-genital, anal-genital, mas também pode ser por contacto directo com pele e mucosas infetadas ou durante o parto.
Muitas pessoas ficam sem sintomas por muito tempo após a infeção (meses ou anos) ou podem apresentar manifestações subclínicas ou até não apresentar sinais visualizados macroscopicamente (a olho nu).
As manifestações clínicas estão, geralmente, associadas a baixa da imunidade, o que leva a multiplicação viral e ao surgimento de lesões iniciais, que na maior parte dos casos têm remissão espontânea (o próprio organismo resolve) em aproximadamente 6 a 24 meses, sobretudo, em mulheres jovens.
As primeiras manifestações da infeção pelo HPV surgem, aproximadamente, entre dois e oito meses, mas pode demorar até 20 anos a aparecer algum sinal da infecção. As manifestações costumam ser mais comuns em pessoas com imunidade baixa.
A prevenção em saúde, e em especial para saúde da mulher, é importante em todas as suas fases, desde a vida intrauterina até ao climatério.
Com o aumento da incidência e prevalência do cancro do colo uterino em mulheres cada vez mais jovens, alguns fatores de risco podem potencializar o surgimento de lesões.
O início da vida sexual cada vez mais precoce, a existência de múltiplos parceiros sexuais, o tabagismo e as relações sexuais ocasionais não protegidas são fatores que levam ao aparecimento cada vez mais precoce de lesões precursoras do cancro do colo uterino.
Estes fatores estão ainda associados a outros como a baixa disponibilidade para realização dos exames de rastreio, a dificuldade para os realizar e a falta de informação. Como exemplo, numa turma do 3º ano de Medicina apenas 4 a 5 mulheres em idade reprodutiva haviam realizado o exame de Papanicolau.
O cancro do colo do útero é causado principalmente pela infeção persistente por alguns tipos de HPV.
Para prevenção temos :
- Realização da consulta de ginecologia de rotina no mínimo 2 vezes por ano (mulheres imunocompetentes – sem alterações da imunidade), em que se realiza exame especular podendo detetar lesões que levam a suspeitar em infecção por HPV;
- A Colposcopia, que é realizada com o uso de um colposcópio para ampliação da visualização do colo e associado uso de soluções que fazem com as lesões possam ser visualizadas, indicado sempre que há lesões suspeitas;
- Colpocitologia oncótica cervical ou Papanicolau, que é o exame ginecológico preventivo mais comum para identificar lesões precursoras de cancro do colo do útero. Esse exame ajuda a detetar células anormais no revestimento do colo do útero, que podem ser tratadas antes de se tornarem cancro. O exame não é capaz de diagnosticar a presença do HPV. No entanto, é considerado o melhor método para detetar o cancro do colo do útero e suas lesões precursoras:
- O Papanicolau ou Citologia Oncótico é o exame de rastreio realizado em todas as mulheres em idade reprodutiva a partir do 3º ano do início da sexarca (primeira relação sexual), deverá ser realizado uma vez por ano e, quando existem três exames consecutivos negativos e sem fatores de risco, pode ser realizado de dois em dois anos. Neste exame, faz-se o diagnóstico das lesões do colo uterino, tanto as iniciais – pré-malignas, como as malignas, determinando assim a conduta.
- Exame de rastreio do HPV, que é indicado quando diante de lesões suspeitas, pois o HPV é um vírus com vários subtipos e os subtipos mais oncogénicos são o 6, 11, 16, 18, 31,33,45, 52 e 58.
- Vacinação, que, idealmente, deve ser administrada antes da sexarca (primeira relação sexual), entre os 9 e os 14 anos de idade, mas também poderá ser realizada na vida adulta, se houver exposição a factores de risco e, mesmo quando a paciente estiver em tratamento de lesões por HPV, pois a vacina não trata a lesão atual mas previne lesões futuras. Mesmo após a vacinação, deve-se manter a realização do papanicolau.
- Uso de Preservativo: o uso de preservativo (camisinha) nas relações sexuais é outra importante forma de prevenção do HPV. Contudo, o seu uso, apesar de prevenir a maioria das ITS, não impede totalmente a infeção pelo HPV, pois, muitas vezes, as lesões estão presentes em áreas não protegidas pelo preservativo (vulva, região pubiana, períneo ou bolsa escrotal). O preservativo feminino, que cobre também a vulva, é mais eficaz para evitar a infecção, se utilizada desde o início da relação sexual.
Tendo tudo isto em conta, é extremamente importante a realização de exames preventivos para o cancro do colo uterino, que levam a deteção precoce de lesões suspeitas e ou lesões pré-malignas, o que conduzirá a um melhor prognóstico.
Não menos importante é também a informação sobre os fatores de risco, como a existência de múltiplos parceiros sexuais e o início precoce da sexarca (primeira relação sexual), pois expõem por mais tempo o colo uterino a infeções e traumas.
Posto isto, é fundamental seguir algumas orientações-chave:
- Realizar duas consultas ginecológicas de rotina por ano mesmo sem sintomas (ou mais vezes se tiver baixa imunidade);
- Além das consultas de rotina, marcar consulta sempre que tiver sintomas ginecológicos mesmo que aparentemente sejam sintomas frustes, tais como: sangramento incomum entre os períodos, após a menopausa ou após a relação sexual; corrimento vaginal intenso ou fétido; sintomas como dor persistente nas costas, pernas ou pelve; perda de peso, cansaço, perda de apetite; desconforto vaginal; inchaço das pernas”;
- Realizar o primeiro papanicolau três anos após o início da primeira relação sexual e, depois, continuar a fazer o exame anualmente;
- Usar preservativo em todas as relações sexuais ocasionais;
- Procurar ajuda médica e ou de profissionais de saúde qualificados sempre que estiver na presença de algum sinal ou sintoma clínico e ou em busca de informações que levam a prevenção;
- Vacinação contra o Vírus do papiloma humano (HPV) sempre que disponível, de preferência antes da sexarca, ou mesmo após tratamento de lesão no colo uterino;
- Informação: lembrar que a prevenção sempre é e será melhor que o tratamento. A mulher é o pilar da família e da sociedade.
Pode saber mais sobre as causas, sintomas, consequências, prevenção e tratamento do HPV aqui.